segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Chá com paisagens "Cantão" - Tea with "Canton" landscapes



Hoje estou de regresso aos chás de terça-feira, para me associar à festa do 5º aniversário de Tea Time Tuesday. Resolvi assim responder ao convite da Sandi do blogue Rose Chintz Cottage, uma incansável anfitriã destes eventos semanais à terça-feira, que nos desafiou a participar com a nossa chávena ou bule favorito.


Confesso que no meio de tantas chávenas que já aqui usei para o chá (e mais algumas que ainda não tiveram oportunidade de se mostrar :)) teria dificuldade em escolher a minha preferida, mas há um motivo decorativo que está entre os meus favoritos em qualquer tipo de loiça: o "Cantão" a azul e branco.

Assim, combinei o meu último achado em bules, um exemplar de peso - literalmente falando! - em porcelana chinesa, com duas chávenas em porcelana da Vista Alegre, uma para chá e outra para quem preferir tomar café ;), usando como tabuleiro uma travessa em faiança de estilo inglês, com uma marca misteriosa, de que já aqui falei.




O bule não está marcado, mas aquela porcelana vítrea e pesada, assim como toda a decoração, não oferecem grandes dúvidas de que se trata de porcelana chinesa, talvez do final do século XIX.
A chávena de chá, não apresentando um típico motivo Cantão, foi decorada com paisagem e figuras orientais e cercaduras a condizer, na chávena e pires do serviço Kasumi. Tem o formato London shape, criado pelos ceramistas ingleses do início do século XIX, mas depois adotado por muitos fabricantes de porcelana europeus e também chineses.




 Esta marca foi usada pela Fábrica de Porcelana da Vista Alegre em apenas um ano, 1980, permitindo assim dar à chávena e pires a simpática idade de 35 anos.
A chaveninha e pires de café, encontrei-os há muitos anos no "Rastro", a feira de velharias de Madrid, e muito surpreendida por ver ali este exemplar de porcelana portuguesa, lá a trouxe como "recuerdo" dessa viagem.




 O formato da chávena, num motivo Blue Canton da Vista Alegre, com aquela asa tão caraterística, é bem a cópia do formato mais usual para café na porcelana chinesa de exportação, já que para o chá os orientais usavam as delicadas tacinhas sem asa, como as que trouxe aqui para o chá... já lá vão quase dois anos!



Esta marca da Vista Alegre foi usada de 1971 a 1980, neste caso associada à marca da firma americana Mottahedeh, para quem a VA fabricou não só o Blue Canton, mas também outros modelos de porcelana, sempre boas reproduções da porcelana chinesa de exportação.


Aqui está a travessa, com uma paisagem Cantão muito estilizada, agora transformada em tabuleiro para o chá :) e a seguir a marca que ainda não consegui decifrar.


Para esta combinação de peças, inspirei-me no tabuleiro de chá que sobressai bem ao centro da magnífica pintura de Eduardo Viana, "Interior", de 1914, que faz parte da coleção do Museu do Chiado em Lisboa.


Resta-me dar os parabéns à Sandi e agradecer-lhe por estes cinco anos de atividade como anfitriã do Tea Time Tuesday, permitindo uma agradável partilha de imagens  e de saberes à volta do chá e das coisas a ele associadas.
Também me vou associar a Tuesday Cuppa Tea da Ruth W, sempre com partilhas muito interessantes, de que tinha perdido o rasto, e ainda estou à espera dos contributos desta semana da Martha e da Terri de Tea Cup Tuesday, o primeiro destes eventos a que me associei, já lá vão quase quatro anos!!!


quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Uma pequena paisagem... de Rubens

Paisagem com leiteiras e vacas
Foi no início do verão passado, com os olhos ainda cheios das paisagens nórdicas do Museu do Prado que estiveram em exposição no Museu Nacional de Arte Antiga, que me senti atraída por esta paisagem, emoldurada com dignidade, mas muito suja e manchada, no chão de uma feira de velharias.
Ao pegar nela reparei imediatemente nas inscrições, entre elas o nome P. P. Rubens, mas custou-me a acreditar que fosse o tal! Perguntei o preço, pouco mais de meia dúzia de euros, e ainda hesitei porque efetivamente as manchas de "foxing", que conheço muito bem como resultado da humidade nos livros, nunca mais desaparecem e sem dúvida retiram beleza a qualquer obra em papel.

O estado da gravura ao ser retirada da moldura

 Para além das manchas, havia sinais bem nítidos de que a gravura em tempos foi enrolada e depois passou parte da vida guardada e esquecida numa qualquer estante ou armário, certamente com pilhas de livros por cima, o que lhe deixou vincos irremediavelmente marcados no papel.
Bem, mas tinha esperança de poder fazer alguma coisa para melhorar o aspeto geral e tinha já certo o prazer de ter muito para descobrir por trás dos nomes inscritos num e noutro lado da margem inferior.


Começando pelo lado esquerdo, confirmei por pesquisa no Google, que foi Peter Paul Rubens (1577-1640)  que pintou esta paisagem e que Schelte à Bolswert fez o trabalho de gravação. 
Quanto a  Rubens, pouca gente desconhece o nome e a importância que teve como pintor flamengo do século XVII, com uma obra vasta em várias temáticas - retrato, paisagem, cenas bíblicas, históricas e mitológicas.
Já Schelte à Bolswert (1586 - 1659), também conhecido por Schelte Adamsz. Bolswert, era para mim inteiramente desconhecido, mas fiquei a saber que foi um gravador profícuo de mérito reconhecido, nascido na cidade de Bolswert, na Frísia - lá, como cá, o hábito de usar como apelido o nome da terra de origem - e que trabalhou muitos anos em estreita ligação com Rubens, tendo continuado após a sua morte. 


Do lado direito vemos o nome do impressor, Gillis Hendricx, de Antuérpia, cidade onde Rubens trabalhou e veio a morrer.
Soube também que Bolswert gravou, entre muitos outros trabalhos,  não só as grandes paisagens de Rubens, mas também a série de pequenas paisagens, 20 ao todo. Para gravura,  não são propriamente pequenas - cerca de 35cm x 45cm (a folha).
Continuando a pesquisa à procura das pequenas paisagens com os dados constantes nesta gravura, fui ter ao Museu Britânico, onde encontrei duas gravuras exatamente iguais à minha, datadas de 1638.

A paisagem humanizada do lado esquerdo da gravura

Qualquer das duas é assim intitulada e descrita: Pequeno lago com vacas e duas leiteiras; paisagem com um pequeno lago contendo juncos, uma das leiteiras inclina-se para encher um balde com água e uma das vacas esfrega o pescoço contra o tronco de uma árvore em baixo à esquerda, um pescador senta-se na margem ao longe à esquerda.
Estas são as cenas que tanto proliferam nas loiças inglesas decoradas a transferprint e que foram certamente a sua fonte de inspiração: campo, riachos, leiteiras, vaquinhas, pescadores...

Peter Paul Rubens - "Paisagem com leiteiras e vacas" - Museu de Liechtenstein
Foi naquela página online do Museu Britânico que soube que o original de "Paisagem com leiteiras e vacas" se encontra na coleção do Museu de Liechtenstein, (não em Vaduz, como lá éstá indicado, mas em Viena, Áustria) e que esta foi a primeira paisagem autónoma pintada por Rubens, em 1616. Surpreendeu-me vê-la  em espelho em relação às gravuras, mas se não fosse esse facto, a semelhança é tal que poderia parecer que as gravuras eram fotocópias a preto e branco, em escala mais reduzida, da pintura original.
Assim, a cores, a cena enche-me o olhar!
Resolvido o desafio da identificação e da descoberta de informação, havia que melhorar o aspeto da gravura e por isso decidi levá-la a uma casa de molduras só para que cortassem um passepartout em cartolina que cobrisse toda a margem desfeada pelo "foxing".



Assim foi feito, foi passada a ferro com cuidado e de novo emoldurada e agora já tenho o meu Rubens pendurado na parede!  ;)


terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Em Dia de Reis, fragmentos de Natal


 "Fragmentos de Natal" foi o nome dado à última exposição temporária do Museu Nacional de Machado de Castro. Deparei com ela por acaso numa ida ao museu, pelo que não deve ter sido muito divulgada, mas apesar de pequena, demorei-me um bom bocado a apreciar e a fotografar as peças, só que, fotografadas com telemóvel... :(

Cavalgada ou Cortejo dos Reis Magos
São pequenas esculturas em terracota, todas datadas do séc. XVIII, muito apelativas pela perfeição das formas apesar da pequenez à escala de presépio, sendo a mais espetacular a Cavalgada, um magnífico conjunto de figuras da autoria de António Ferreira. Terão feito parte de presépios ou de outros contextos sacros e agora, descontextualizadas, figuras avulsas, estão guardadas nas reservas do museu. Apenas a Cavalgada já fez parte, quanto a mim justificadamente, da exposição permanente, mas acabou por se juntar às restantes.

Rei Mago adorando o Menino 
Eu, que sempre gostei dos presépios com figurinhas de barro, fico embevecida a olhar para a perfeição destas pequenas esculturas, concebidas para ricos presépios de igrejas ou conventos, destinados a encantarem toda uma comunidade de fiéis, crianças e adultos.

Reis Magos 
Grupo de camponeses
E lá me vem à mente o nome de Machado de Castro, o mais conhecido autor de presépios em terracota, ilustre patrono deste museu.


Sagrada Família

Fuga para o Egipto
Esta Fuga para o Egipto proveniente do Convento do Louriçal surpreendeu-me e encantou-me pelo inesperado da cena. Confesso a minha ignorância nestas matérias, mas a verdade é que nunca tinha visto uma representação da Sagrada Família a fugir de barco para o Egito!!! Só conhecia o burro ou jumento como meio de transporte, mas realmente podiam ter ido de barco. Uma delícia!
Hoje era o último dia da exposição e por isso, já que as peças vão de novo ficar arredadas dos olhos do público,  aqui deixo esta amostra, muito pouco elaborada, para apreciadores como eu destas pequenas grandes coisas.