segunda-feira, 25 de junho de 2012

Peças Déco para o chá - Deco pieces for tea

Hoje trouxe para o chá de terça-feira, com Tea Cup Tuesday, Tea Time Tuesday e Tuesday Cuppa Tea, um conjunto de peças, todas de porcelana de Coimbra ao estilo Art Déco, embora de períodos de fabrico distintos.


Começo pelas chávenas, uma de chá e outra de café com respetivos pires, que me encantaram na Feira de Velharias de Ovar, onde já não ia há mais de um ano.
Achei-as lindas, de uma elegância sóbria e delicada, neste branco imaculado decorado a azul e ouro, moldadas em suave canelado horizontal, formato Porto segundo o MAFLS, com as típicas asas Déco em orelha, formando os dois tamanhos um conjunto muito harmonioso.



A marca é da Sociedade de Porcelanas de Coimbra, ou Coimbra S.P. Portugal; a forma e a decoração levam-me a concluir que terão sido fabricadas nos anos 30 ou 40 do século passado.


Os bules também os adquiri há pouco tempo, são daquelas peças isoladas que aparecem baratíssimas na Feira da Ladra e eu não lhes consigo resistir. O maior tinha uma falha no bico, que disfarcei limando-o, mas o pequeno estava impecável; os dois, comprados em separado, não me chegaram a custar 5 €.   :)

 
Estas são as marcas dos bules, ambas da Porcelana de Coimbra, com o brasão da Rainha Santa Isabel inserido em dois círculos concêntricos, o que as data dos anos 20 ou do início dos anos 30 do século passado, altura em que a fábrica da Porcelana de Coimbra mudou de mãos e se constituiu a Sociedade de Porcelanas de Coimbra.  O carimbo da direita corresponde ao bule mais pequeno, tendo ainda a anotação manuscrita do formato, Estoril, seguida de uma referência com letras e um número, que julgo indicar o motivo decorativo.


À curta história da Porcelana de Coimbra, depois Sociedade de Porcelanas de Coimbra, já aqui fiz referência num post de 7 de Novembro último, também num Tea Cup Tuesday e também com peças Déco, curiosamente o post que detém o recorde de visitas deste blogue.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Mais telhões e beirais por terras do Norte


Quando há cerca de um mês o Franm57 me enviou as fotos dos telhões de faiança da sua coleção, enviou-me também fotografias de vários beirais nortenhos, das quais selecionei apenas as que mostravam  beirais do Porto, a acrescentar às que eu própria já tinha tirado.
Não quis sobrecarregar muito esse post que, com os magníficos telhões daquele colecionador, deixaria outras belezas do género semi-ofuscadas, o que era pena.
Aqui estão hoje esses beirais nortenhos, um em Cabeceiras de Basto e dois em Fafe, com telhões já nossos conhecidos.

Beiral em Cabeceiras de Basto
Estes de Cabeceiras de Basto, os primeiros com este motivo que vejo em Portugal, parecem-me iguais a exemplares existentes no Brasil que já vi em fotos, mas não os localizei agora no acervo do Museu do Açude no Rio de Janeiro, parte dele mostrado há tempos pelo Fábio Carvalho no Porcelana Brasil.
São ramos de videira com as respetivas folhas, gavinhas e cachos de uva, quem sabe a atestar a ligação da casa e da família à produção de vinho verde?

Beiral em Fafe
Neste caso, não só o beiral mas todo o edifício, a avaliar pelo pouco que se pode ver, deve ser digno de ser apreciado, em muito bom estado de conservação, pela amostra.

Beiral em Fafe

Encontram-se nestes beirais vários motivos florais com um efeito muito semelhante, mas reparei que  os telhões deste segundo beiral de Fafe são idênticos a um dos exemplares em exposição no Museu Nacional do Azulejo, o da esquerda,  que fotografei durante a última visita que ali fiz.

Amostragem de telhas e telhões no Museu Nacional do Azulejo
Neste conjunto, à direita, vê-se outro tipo de telhas decorativas, as que formam um rendilhado nas extremidades do telhado, ainda bastante comuns em casas antigas, mas não tanto as policromadas.


À direita a telha  de Santo António de Vale da Piedade

Voltando aos três telhões: ao centro, os nossos já conhecidos e encantadores pássaros com  malmequeres; à direita, mais um motivo floral na única telha com identificação de fabrico no catálogo online do museu, a que se tem acesso através do Matriznet. Não se consegue perceber se tem marca, mas está identificada como sendo de  Santo António de Vale da Piedade.


                   

E por falar em Santo António de Vale da Piedade, aqui fica um belo exemplar de vaso de jardim, marcado, que se encontra numa escadaria da Ordem da Lapa no Porto.
Mais uma vez uma foto enviada pelo Franm57, que vive no Grande Porto, por isso rodeado de muitas destas maravilhas. Só tenho a agradecer-lhe de novo a generosa partilha.




domingo, 17 de junho de 2012

Pucarinhos em faiança ratinha


Quando há cerca de duas semanas aqui mostrei o meu pucarinho de faiança da família ratinha, muito semelhante a um exemplar do acervo do Museu de Aveiro com que hoje abro esta apresentação, houve várias reações de apreço por este pequeno objeto rústico de faiança.


Pucarinho do Museu de Aveiro


Não haja dúvida que os pucarinhos ou pucarinhas são peças bem graciosas que suscitam uma adesão imediata, talvez relacionada com memórias da nossa infância.
Sendo o púcaro um recipiente já de pequenas dimensões, o seu diminutivo, para além do significado de pequenez, tem uma conotação de carinho. Paralelamente ao nome masculino também surge por vezes o correspondente feminino e o respetivo diminutivo, pucarinha, termo que mantém a mesma carga afetiva. Seriam peças muitas vezes destinadas a humildes ofertas, lembranças que a mãe ou a avó traziam da feira como pequeno mimo para os mais pequenos.



Agora, graças à generosa partilha de fotos da CC, que na altura comentou o primeiro post, podemos apreciar mais três exemplares da sua coleção de faiança ratinha e até analisar semelhanças e diferenças. É verdade que as tonalidades dependem muito da luz com que se tirou a fotografia, mas cores e formatos  estão aí para se poderem comparar.





Há uma diferença notória no formato das asas entre os dois primeiros e os terceiro e quarto, o que não me surpreende dada a existência de várias olarias que se dedicavam a este tipo de produção, não só na cidade de Coimbra, mas em localidades dos arredores. Há ainda a possibilidade de os dois primeiros serem produção de Aveiro, hipótese que eu já levantei na resposta a um comentário no outro post, mas sem a poder fundamentar. Pode ainda ser uma questão de diferentes épocas, dado tratar-se de uma faiança produzida ao longo de mais de cem anos, havendo  certamente  diferenças, na pasta, na decoração e na forma, entre as peças mais antigas e as mais recentes.
Quanto ao último pucarinho, não é, como os restantes, do tipo "asado", nome que ainda há 50 anos se dava na região de Coimbra às vasilhas de barro com duas asas, mas o corpo mantém um formato muito semelhante ao das outras peças.

Pucarinho do Museu Nacional Machado de Castro
Este é um exemplar do Museu Nacional Machado de Castro, em tudo semelhante ao segundo enviado pela CC, mas também com muitas afinidades decorativas e formais com o primeiro desses três, saídos certamente da mesma olaria coimbrã.
As dimensões são muito próximas em todos eles: entre 12,5cm a 13,5 cm de altura e 13cm a 16cm de largura.
Entretanto, como trago em mãos um livro interessantíssimo de Rui André Alves Trindade: Revestimentos cerâmicos portugueses: meados do século XIV à primeira metade do século XVI, Edições Colibri, Lisboa, 2007, achei que vinha a propósito acrescentar aqui a reprodução de um documento, entre muitos que lá encontrei, este do reinado de D. João I relativo à atividade dos oleiros da cidade de Évora, com a curiosidade de fazer referência a púcaras, pucarinhos e pucarinhas.


Termino estas minhas pouco doutas considerações com um agradecimento à CC por nos permitir encher os olhos e a alma com a partilha de algumas belezas da nossa arte popular mais autêntica. 

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Um chá rústico e florido - a rustic and flowery tea


Hoje, em vez das habituais porcelanas, fui buscar peças de faiança portuguesa bem rústica para participar em mais um chá à terça-feira com Tea Cup Tuesday, Tea Time Tuesday e Tuesday Cuppa Tea.

        


Já andava há tempos para aqui mostrar esta chávena e o pires, desde que um seguidor deste blogue, o Jorge Pereira, me enviou fotos de várias chávenas suas de faiança, todas com o mesmo tipo de padrão floral e algumas semelhanças na forma.
Reparei que uma delas, a da terceira foto em baixo, era exatamente igual à que eu tinha, e acabei por saber que tal como a minha, foram todas adquiridas na freguesia do Louriçal, uma povoação muito antiga do concelho de Pombal.






Depreendo assim que sejam provenientes de uma olaria local e deduzo ainda, pelo bom estado de conservação de todas as peças, que essa unidade artesanal possa ter estado em funcionamento até meados do século XX.
Quanto ao açucareiro, nada sei dele. Encontrei-o na Feira da Ladra, já sem tampa, mas gostei das tonalidades e achei graça ao formato e à asas castanhas. 
Depois pensei que com os seus motivos florais estampilhados iria fazer boa companhia à chávena e ao pires para o chá desta semana.


E foi assim que reuni estas loiças para a fotografia na mesa da varanda, junto a um cactus em flor que, tal como estas faianças, sempre vi dar-se bem em ambientes pobres e pouco exigentes.
Um agradecimento ao Jorge Pereira, por amavelmente se ter disposto a partilhar as fotos do seu bonito conjunto de chávenas de faiança.


quinta-feira, 7 de junho de 2012

Santo António do Pão



Estamos no mês dos Santos Populares, dos arraiais, das marchas e das sardinhas, e os primeiros festejos da série são muito apropriadamente dedicados ao nosso simpático Santo António de Lisboa.
No imaginário popular, é aquele santo afável, companheiro de brincadeiras do Menino Jesus,  também protetor dos namorados, fazedor de milagres e o mesmo que se fazia ouvir mais pelos peixes do que pelos homens.
Por tudo isso, tenho este meu Santo António do Pão - uma boa reprodução das lojas dos museus do IMC, a partir de um original do Museu da Guarda - especialmente florido durante o mês de Junho.


Gosto particularmente desta iconografia do santo, com hábito franciscano e  com a sacola do pão ao ombro, atributo que simbolizará a vida e o alimento, mas também a fraternidade.
A cruz representará o seu desejo de se tornar missionário e mártir da fé - como os Santos Mártires de Marrocos, cujos restos mortais chegaram ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra quando Fernando de Bulhões ali se encontrava. O livro do Evangelho, sobre o qual se senta o Menino, simboliza a sabedoria de Santo António e o seu estatuto de Doutor da Igreja.
O original é em pedra calcária (talvez pedra de Ançã) policromada e mantiveram na reprodução os restos de policromia que ainda subsistem nesta escultura do Museu da Guarda.


Todos sabemos que nasceu em Lisboa (1191), e morreu em Pádua (1232), mas já não serão tantos os que sabem que ele esteve muito ligado a Coimbra, não só à Igreja de Santa Cruz onde tomou ordens sacerdotais como cónego regrante de Santo Agostinho, mas também e sobretudo ao hospício franciscano dos Olivais, onde adotou o hábito franciscano e mudou o nome de Fernando (de Bulhões) para António.
Esse local, onde inicialmente existira uma capelinha dedicada a Santo Antão, veio a tomar o seu nome ainda no século XIII, como Convento de Santo António dos Olivais.



O convento franciscano acabou por se mudar para outro local da cidade, junto ao Mondego, mas nunca mais deixou de acorrer àquele santuário do alto o povo devoto a Santo António.
Assim, a primitiva e térrea cela do santo, sempre visitada pelo povo,  tornou-se numa capela e no final do século XV, graças a esse culto antoniano, o cabido encomendou profundas obras de ampliação que deram lugar à igreja. Outras obras se seguiram, sendo as mais avultadas e prolongadas realizadas durante o século XVIII, obras que, no exterior, com a entrada em arcos e a escadaria ladeada por seis capelinhas, deram ao complexo o seu aspeto atual.



Visitei há pouco tempo este santuário onde só tinha entrado duas vezes: há muitos anos num casamento e há poucos anos num funeral, em ambos os casos de amigas minhas...
Os tesouros que ali se abrigam, em azulejaria, retábulos com talha, pintura e escultura não me cabe a mim descrever, prefiro aconselhar uma visita, que até pode ser guiada, mediante uma inscrição no programa de visitas guiadas a cargo da Casa Municipal da Cultura de Coimbra.
Mas a pequena jóia que é a sacristia, não resisto a mostrar aqui... só para aguçar o apetite!











sexta-feira, 1 de junho de 2012

Um catálogo precioso - faiança ratinha


Recebi hoje mesmo uma oferta de uma amiga, que me encheu de satisfação.
Trata-se do catálogo Cerâmica na Colecção da Fundação Manuel Cargaleiro, cuja magnífica capa se vê em cima.
Aqui estão reunidas todas as peças que integraram uma exposição patente no Museu Cargaleiro em Castelo Branco, que já aqui abordei, na sequência da visita que ali fiz, e que incluiu não só a coleção de faiança ratinha do artista, mas também a sua coleção de faiança de Triana, Sevilha.

Bela fotografia de conjunto da faiança ratinha em ilustração de página dupla

O catálogo impressiona pela qualidade, está de parabéns a Câmara Municipal de Castelo Branco.
Tem uma apresentação magnífica, desde a capa aos separadores monocromáticos nas cores da faiança que apresenta, passando pelas excelentes fotografias das peças.
E tudo isto coroado por ricos  textos introdutórios da investigadora Ivete Ferreira, com Tese de Mestrado sobre a faiança ratinha, e as suas pormenorizadas descrições de cada um dos exemplares,  perto de cem, quer ratinhos, quer trianeiros. Como já referi no outro post sobre a exposição, os exemplares ratinhos estão classificados em categorias segundo o tipo de decoração que apresentam.


Dois dos Lebrillos Trianeros com as respetivas notas descritivas

Penso que a publicação deste catálogo é uma dádiva maravilhosa para todos os entusiastas da faiança popular e particularmente para os colecionadores e amantes da faiança ratinha.
Não sendo colecionadora, também me deslumbro por estas faianças de cariz popular, encantam-me sobretudo os verdes intensos, e vou adquirindo uma ou outra, desde que não seja necessário alargar muito os cordões à bolsa!!!


Assim, acho que esta é uma ótima ocasião para partilhar aqui o último exemplar de faiança ratinha que adquiri: um humilde pucarinho.
Encontrei-o partido e colado numa casa de artigos usados e é claro que não o podia deixar ficar lá mais tempo ao abandono :)
 Existe um exemplar muito semelhante no Museu de Aveiro, com o número de inventário 402/E , mas este  parece ser mais recente ou então foi muito pouco usado...até o partirem. Tem 12,5cm de altura e 14cm de largura.


Cá está uma tonalidade de verde bem forte que muito aprecio, com pormenores decorativos na asa e por baixo dela e as linhas onduladas a manganés que tão bem caraterizam este tipo de produção coimbrã.