Os motivos florais abundam na faiança portuguesa dos séculos XIX e XX, não só a compor cercaduras estampilhadas, mas mesmo como tema central e já aqui mostrei vários pratos com esse tipo de decoração, muitos deles normalmente atribuídos a Coimbra.
Este exemplar de pequenas dimensões - tamanho de prato de sopa - atraiu-me não só pela forma do ramo, mas sobretudo pela presença da jarra.
Este elemento, aos meus olhos, dá-lhe um ar mais ingénuo e também mais arcaico, lembrando-me até uma ingénua natureza morta pintada em faiança. Gostei da simetria, das tonalidades usadas e sobretudo da forma da jarra, invulgar dentro das representações em faiança que eu conheço.
Neste outro prato que já aqui tinha mostrado, este de maiores dimensões, a composição central de flores é semelhante, mas neste exemplar a jarra é muito menos elaborada, fazendo até lembrar mais um vaso de barro do que uma jarra.
Para além das faixas amarelas concêntricas, há aqui um elemento decorativo a que não dei atenção na altura e que me faz pensar em fabrico de Gaia.
São aquelas linhas curvas a azul, tipo rabiscos, de cada lado do vaso, que também aparecem em muitos pratos atribuídos a Bandeira, nomeadamente em pratos de Meninos Gordos, mas também em peças do chamado cantão popular, e no próprio motivo País de Miragaia, nesses casos a representar vegetação.
A própria opção de adicionar em simetria uma folha verde de cada lado do motivo central, encontra-se muito nas faianças nortenhas do século XIX e é um elemento recorrente, em diferentes tamanhos, nos pratos dos Meninos Gordos das fábricas de Gaia - Fervença, Bandeira, Afurada.
Este é decididamente um prato de faiança do Norte, mas mais do que isso... é difícil dizer.
"Rabiscos" filiformes a representar vegetação, semelhantes aos do meu prato, numa travessa do tipo cantão popular
Voltando às jarras de flores como motivo central nas faianças, a IF, que muitas vezes visita este blogue e tem deixado comentários inestimáveis sobre faianças, enviou-me entretanto uma fotografia de um Ratinho muito invulgar que encontrou num catálogo de 1996 do Palácio do Correio Velho.
Flores... dois corações... um par de pássaros... não será difícil detetar aqui uma simbologia ligada ao namoro ou ao casamento, como nos pratos em que aparecem dois corações como motivo central.
Agradeço mais este contributo para que vamos aumentando cada vez mais o nosso conhecimento de motivos e estilos na tão variada e criativa faiança portuguesa de cariz popular.