segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Mais "nursery plates"...et pour cause!!!

Já aqui mostrei três pratinhos para crianças, num post de 29 de Setembro último, e nessa altura contei a história desses pratos ingleses, quando e onde se produziram e  para que serviam. Agora é outra a história que vou contar...


Estes três  pratos para crianças sairam certamente da mesma oficina de Staffordshire pois, não só a decoração  em relevo da aba é a mesma e são os mesmos os tons na pintura das estampas, mas têm em comum serem ilustrativos das "máximas de Benjamin Franklin", aplicadas à vida  rural, afinal o estilo de vida predominante naquela época.
Franklin, figura multifacetada  da história americana - impressor e livreiro, escritor, político e cientista - editou, nos seus tempos de juventude, o "Poor Richard's Almanac", um almanaque muito popular nas colónias americanas que se viriam a tornar os Estados Unidos da América, também em grande parte graças à sua ação política e diplomática. Para  esse almanaque fez um levantamento de provérbios, máximas e citações, obviamente em língua inglesa, certamente com um fim didático para crianças e  adultos.
Toda a produção cerâmica em Inglaterra contava à partida com o mercado americano e também por isso se explica que as máximas ou provérbios de Benjamin Franklin, que afinal eram de origem inglesa, apareçam transcritas e ilustradas nestes pratos para crianças.
Produzidos aos milhares durante o séc. XIX, raramente têm marca, daí ser difícil datá-los. Estes não são de grande qualidade, nem em termos de pasta cerâmica, nem na impressão das frases e dos motivos, serão da 2ª metade do séc. XIX.  Já têm cabelos e esbeiçadelas, mas quando os vi à venda na feira de Viana do Castelo, não lhes resisti, precisamente pela história que veiculam.


Este prato, com as palavras esborratadas, tem trancrito e ilustrado  o seguinte provérbio:

I never saw an oft removed tree
Nor yet an oft removed family
That throve so well as those that settled be

que eu traduzo mais ou menos livremente, para manter a rima, da seguinte forma:

Eu nunca vi árvore muito mudada
Nem família que muito mudasse
Que tanto prosperasse como outra bem fixada


Este ilustra um outro provérbio muito conhecido:

Want of care does us more damage than want of knowledge
For want of a nail the shoe was lost & for want of a shoe the horse was lost

ou seja,
A falta de cuidado causa-nos mais dano do que a falta de saber
Por falta de um prego perdeu-se a ferradura e por falta da ferradura perdeu-se o cavalo


 Finalmente este último, embora o mais legível, vou transcrever:

He that by the plough would thrive
Himself must either hold or drive

Traduzindo,
Quem queira  pelo arado prosperar
Tem ele próprio de o segurar ou guiar

Percebe-se bem a intenção de ilustrar os pratos infantis desta maneira. Num tempo em que o acesso ao ensino formal era muito limitado, assim se iam inculcando ensinamentos, atitudes  e valores nas mentes dos mais novos.

11 comentários:

  1. Tenho uma admiração profunda por Franklin, que, contra todos os ventos e marés, realizou um trabalho admirável na corte de Luís XVI (onde permaneceu até 1785), contribuindo de forma decisiva para o movimento independentista dos Estados Unidos, que sem a preciosa ajuda conseguida por aquele, seguramente não teriam tão facilitada a luta contra os ingleses.
    A par deste movimento diplomático foi um cientista dedicado ao estudo, entre muitos outros campos, da electricidade e da meteorologia. A ele devemos os estudos que conduziram ao aparecimento do pára-raios.
    E, não menos importante, contribuiu para o conforto das casas com mil engenhocas curiosas, extraordinariamente inventivas como peças de mobiliário que se podiam esconder dentro de paredes, fogões que aqueciam a casa através de correntes de ar aquecidas (os antepassados dos nossos recuperadores de calor), enfim, um homem, como refere, multifacetado, que se distinguiu de forma muito positiva no seu tempo! Não entraria neste "relambório" todo doutra forma, pois já estou a escrvever em demasia, mas a figura a isso me impele!
    Para lá de tudo isto é de salientar o seu aspecto humano pelo seu vanguardismo relativo à época e meio onde vivia, sendo um dos impulsionadores do movimento abolicionista!
    Que encanto verificar esta pequena homenagem a um dos meus personagens favoritos!
    E quero expressar-lhe os meus parabéns pelas traduções felizes que fez destes provérbios, os quais reconheço serem algo difíceis de traduzir mantendo um certo ritmo e métrica e a concordância, fundamentais a este tipo de literatura!
    Manel

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  2. Também sempre admirei a figura do Benjamim Franklin. Em miúdo, existia no mercado uma colecção de biografias de pessoas célebres e li uma biografia muito simplificada da vida dele, mas que me deixou a mesma impressão, que o Manel tem exprimiu aqui, um benfeitor da humanidade, muito à maneira iluminista, que acreditava na procura da felicidade. Voltaire ou Rousseau, achavam que a prossecução da felicidade se poderia fazer através de leis justas e governos esclarecidos. Outros como Benjamim Franklin acreditavam que os seus inventos poderiam melhorar as condições da humanidade.

    Os seus pratos infantis levaram-me a estas reflexões, porque hoje temos governantes, gestores e economistas que põem todos seus esforços na tentativa de diminuir os direitos dos cidadãos, baixar salários, obriga-los a trabalhar mais horas e a tornar os homens infelizes.

    Julgo que estou um bocado a ficar um velho do Restelo, mas aflige-me que hoje tenha desaparecido esse conceito da procura da felicidade, como objectivo das artes, das humanidades e das ciências

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  3. Manel,
    Não podia ter ambicionado melhor comentário para este post do q o q aqui deixou! Não me alonguei tanto como devia sobre Benjamin Franklin, figura q também admiro por várias razões, porq afinal as vedetas aqui são os pratos e os provérbios q ilustram, mas eis q surge um comentador à altura e assim ficou muito mais completo e rico este post com toda a dissertação q fez sobre este grande homem. Um dos aspectos mais salientes do humanismo de Franklin foi precisamente a sua luta pela abolição da escravatura e em 1789 presidia a uma sociedade da Pensilvânia q não só lutava por esse ideal, mas ia mais longe e procurava angariar fundos q garantissem aos negros libertos um mínimo de condições de vida dignas. Esse objectivo só pontualmente terá sido conseguido pois são conhecidas as provações por q passaram muitos destes cidadãos "livres", sem casa, sem terra, sem emprego, condenados a deambular pelas cidades na mais extrema miséria e ainda sujeitos a perseguições e linchamentos.
    Quanto às minhas traduções, tenho a dizer-lhe q lecionei durante vários anos a disciplina de Técnicas de Tradução de Inglês, técnicas q nunca aprendi na Faculdade, mas nunca se aprende tanto como quando se tem q ensinar... Os maiores desafios q se colocavam a mim e aos alunos eram as traduções de linguagem idiomática - provérbios, jogos de palavras, expressões idiomáticas, ... - e também a tradução de poesia. Há sempre muitas hesitações entre a fidelidade ao original, a manutenção dos efeitos estilísticos e a melhor transcrição na língua alvo, mas é um trabalho muito estimulante, q gosto de fazer.
    Bem, é melhor ficar por aqui.
    Um abraço

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  4. Luís
    Também apreciei as suas referências a esses homens cujo pensamento se concentrou muito no grande objectivo humanista da procura da felicidade terrena. Curiosamente, tenho uma biografia de Franklin escrita pelo nosso Agostinho da Silva - "Vida de Franklin", Lisboa, Ed. do Autor,1942 - q nos anos 30 e 40 escreveu vária biografias de grandes figuras sobretudo dos séc. XVIII e XIX.
    É verdade q cada vez menos a felicidade das pessoas é preocupação de quem nos governa ou de quem comanda este nosso mundo, entidades meio obscuras q não conhecemos mas q determinam as nossas vidas... As pessoas são cada x mais escravizadas, tratadas como marionetes q trabalham cada vez mais para consumir cada x mais e depois nem têm tempo para gozar o q conseguiram com o seu trabalho, ou são deitadas fora sem qualquer escrúpulo, sempre q já não interessam aos soberanos desígnios económicos vigentes. Não sei se haverá volta a dar a isto, mas tenho muita pena, sobretudo pensando nas gerações mais novas...
    Acho q não contribuí nada para o animar, peço desculpa... Mas temos estes nossos gostos pelas coisas belas q vamos encontrando por aí, amigos com quem partilhar estes gostos, família e saúde, tudo isto já pode contribuir bastante para a nossa felicidade...
    Abraços

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  5. Cara Maria Andrade
    Parabéns por mais estes três lindos "nursery plates".

    Sem dúvida, uma forma engenhosa, de presentear os meninos bem comportados na catequese!O presente, aliado à mensagem que se pretende divulgar. Com certeza, que numa época em que os brinquedos não abundariam, estes seriam muito desejados pelas crianças, o que, não tenho dúvida alguma, seriam uma forte motivação para as crianças se portarem bem.
    Um abraço
    Maria Paula

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  6. Agradeço-lhe as suas palavras, sempre gentis, mas a Maria Andrade foi a culpada :)
    Assim, limitei-me a reagir à sua feliz homenagem a um homem cuja vida, não sendo muito conhecida, é rica e digna de ser sempre recordada. Ajuda a tornar a humanidade mais interessante!
    Um bem haja
    Manel

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  7. Olá Maria Paula,
    Sei q o mundo da infância faz parte do seu dia-a-dia e por isso tem certamente especial sensibilidade para apreciar este tipo de objectos. Imagino o deslumbramento e o brilho nos olhos de muitas crianças, mais ou menos favorecidas, mas como diz, sem abundância de brinquedos, ao receberem estes pratinhos "com bonecos e com letras"... Desde q os meus filhos cresceram, estava afastada deste mundo, mas agora q acabei de ser avó, vou voltar a ele com um encanto redobrado...
    Beijos

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  8. Cara Maria Andrade!
    Um abraço muito grande de parabéns!
    Espero que tudo tenha corrido bem.
    Muitas felicidades a toda a família, especialmente aos jovens pais e ao pequeno Gabriel.
    Beijinhos
    Maria Paula

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  9. Muitos parabéns pelo marco que acabou de passar (eu sou tio-avô, e o facto, na altura -já lá vão 8 anos - como hoje, ainda me emociona).
    Felicidades para todos, muito especialmente para o ser que agora inicia o seu caminho.
    Manel

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  10. Caros Maria Paula, Manel e Luís,
    Como devem calcular, tenho tido menos tempo para passar por aqui, mas muito me sensibilizaram as vossas simpáticas palavras! O Gabriel é agora o centro das atenções... Tem q ser bem acolhido neste mundo novo onde acaba de iniciar o seu percurso, q todos esperamos seja feliz.
    Um bom fim-de-semana!
    Abraços
    Maria Andrade

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